terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Todas as cartas de amor são ridículas

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa

Sei que ainda não é o dia, mas fica a lembrança. Um feliz dia dos Namorados para todos.

Fátima Lucas

2 comentários:

  1. As pessoas que mais admiro são aquelas que nunca acabam.

    Almada Negreiros

    Fernando Pessoa é uma dessas pessoas, ele e os seus heterónimos nunca estão desactualizados.
    E conseguem dar um novo sentido as coisas....

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  2. Concordo contigo. De facto, Fernado Pessoa nunca acaba; as suas ideias, conceitos e emoções, são intemporais!

    Fátima Lucas

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