sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Tempo Contado

Em julho, já lá para o fim, o relógio encalhou.
O ponteiro dos segundos ficou para ali num “vou – não vou” de quem ainda tem pilhas mas não quer arrancar. Tic-tac. Tac-tic. Tic-tac. Tac-tic…
E os outros dois não tugiam nem mugiam. “Quedos e mudos, em perfeita atitude bovina”.
Tal como eu. Que nem perante este quadro me decidi a retirar o relógio do pulso e que ainda fui – sabe-se lá porquê?! – verificar o estado da minha pulsação! Parada não estava…

O relógio quedou-se de vez em cima do móvel da entrada. E eu entrei de férias.
Esperavam-me vinte e dois dias úteis, que se adivinhavam deliciosamente inúteis, quatro fins de semana e um feriado, inutilizáveis per se, e mais um dia cuja utilidade levantava sérias dúvidas. (Isto vendido a retalho rende muito mais!)
E assim, em agosto, desliguei as turbinas para me deixar flutuar ao sabor dos dias, encalhando aqui e além na areia de uma praia, na mesa de uma esplanada de café, no relvado de uma piscina, no aconchego do sofá.
Foram dias. De pouco calor. De bastas calorias. Dias com chuva e com neblina. Dias de festas nas aldeias, com café e filhoses noite dentro. Dias com vestígios de um verão antigo e o atual sabor da crise. Dias a vender santos para tentar colmatá-la.
Dias escoados. Todos.

Setembro chegou enrolado na espuma do tempo suspenso e devolveu-me ao tempo contado pelos ponteiros do relógio, agora com pilhas novas e horas certas. Pronto para cumprir mais um ano de trabalho.

G.Rocha
12 de setembro de 2011

3 comentários:

  1. Texto lindo, cheio de poesia, de emoção, de amor por esta terra!
    Orgulho-me de ter sido tua professora de Português!

    Abraço

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Obrigada, Professora.
    O orgulho é recíproco. :-)

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